Nem me preocupo se não tem pudim. Traço uma mariola e fico feliz da vida...
Fico vendo tanta gente aflita por não ter aquilo que deseja e com isso perde a oportunidade de saborear os frutos que a vida oferece.
Troquei recentemente de manicure. A anterior era muito boa, só que resolveu abrir seu próprio salão. Eu tenho uma coisa esquisita comigo e não gosto de ser arrastada pelo sonho dos outros. Cheguei a tentar prestigiá-la em seu novo espaço, mas não deu. O lugar é bom no geral, porém Renata Guidinha funciona na base da afinidade com o ambiente como um todo. Sinto que paredes falam. Janelas se abrem para horizontes especiais e definitivamente aquele novo local não "conversou" comigo. Voltei para o local anterior onde ela trabalhava, passando a ser atendida por outra manicure, por sinal excelente. E é sobre essa nova (minha velha conhecida, mas que nunca tinha me atendido como profissional) que quero comentar.
A Aline (nome fictício por razões óbvias) é mãe de duas crianças especiais, que fisicamente já não são mais bebês. São duas meninas sorridentes de seis e nove anos, que na verdade com relação ao desenvolvimento intelectual e motor estão por volta de um ou dois anos. Imaginem a dificuldade que é para essa mãe, cuidar dessas duas crianças, sendo manicure. Agora, a mãe da Aline acaba de ser diagnosticada com câncer (mama e útero) e começou um tratamento no INCA (Rio de Janeiro). Nos dias em que ela acompanha a mãe ao INCA, as duas saem daqui às 4h20 da manhã em um carro da prefeitura local e o horário da volta é uma incógnita. Na semana passada ela teve clientes para unhas no salão até tarde, saindo de lá às 23h , sendo que no dia seguinte precisava descer a serra de madrugada com a mãe... Podem ter certeza que o cansaço, não lhe tira o sorriso dos lábios e a delicadeza do coração.
Presenciei na semana passada a Aline conversando com o pai dela, tentando convencê-lo de junto com a mãe, irem morar com ela, explicando toda a necessidade de atenção que a mãe terá daqui para frente e tudo mais. O marido da Aline, que não é o pai das meninas (trabalha na construção civil) é uma pessoa pra lá de iluminada. Trata Aline e as meninas com muito carinho - já pude constatar pessoalmente - e pelo que a Aline disse, partiu dele a iniciativa de levar os sogros para morar com eles e que a situação seria a mesma se a pessoa que estivesse necessitando de cuidados fosse o pai. Vi os olhos daquele senhor, que é padeiro, ao ser acolhido pela filha, ficarem marejados e quase afundei na cadeira ao participar daquele momento de emoção tão intensa.
Aline na verdade não tem filhas especiais. Ela sim é uma mulher, filha, mãe, profissional especial... Eu já a conhecia e admirava demais, mas participar daquele momento de intimidade e transbordamento de amor pai x filha, me fez sua fã de carteirinha. Nunca esquecerei aquela cena. Entendi o motivo de não ter conseguido acompanhar a outra manicure na mudança de salão. Deus me queria por testemunha desse momento tão único, que solidifica cada vez mais em mim a certeza de que o amor é maior que tudo. Maior que qualquer dificuldade, maior que qualquer doença, maior que qualquer descrença.
Essa mulher tem um astral maravilhoso, passa uma energia iluminada e minhas sessões de cuidado com as unhas tem ido muito além do cuidado físico ou da vaidade. Tem sido sessões de muito bom humor, alegria e principalmente lições de vida.
É Aline, realmente nem me preocupo se não tem pudim. Traço uma mariola e fico feliz da vida!
Uma amiga do coração ( que na catástrofe de 2011 aqui na região serrana, perdeu toda a produção do seu sítio, inclusive a casa) passou e deixou essa "pequenina" quantidade de cítricos (os primeiros de um recomeço de vida) para mim, com o porteiro aqui do prédio... Estou cercada de gente do bem que partilha muito mais que frutos, partilha amor. Louvo a Deus por essa imensa graça.