O telefone toca em minha cabeceira, acordo meio atordoada sem muita noção de nada. Não me assusto, pois o que mais acontece nessa casa é telefone tocar. Converso com a pessoa e no final da ligação ela diz "me desculpe em telefonar tão cedo, mas é que estou preocupada e não consegui dormir...”. Ãh, como assim? Olho para o lado e o marido pergunta-me o que aconteceu? Respondo que nada, era só fulano querendo saber isso assim, assim. Marido reclama: "essa hora?"...
Gente de Deus, não sei se sou eu o mundo que está girando em sentido inverso. Está bem, já fui informada de que hoje é segunda-feira, mas espere aí, eu não preciso mais levantar-me às cinco da manhã, minhas filhas já cresceram, estou aposentada, não vou para academia e aqui não tem praia... Por favor, assuntos sem urgência podem esperar pelo menos até o meu café da manhã, não é?
Já vivi uma vida de correria e durante anos só conseguia dormir no máximo cinco horas por noite. Muitas vezes acordei de sobressalto no domingo, pensando ter perdido a hora, achando que era segunda-feira.Agora? Quero aproveitar minha cama. Não sou preguiçosa, só desejo que valha a pena o investimento de tê-la comprado. Nem faço questão das oito horas de sono tão apregoadas como ideais.Não sei se esse negócio da idade afeta, mas hoje em dia eudurmo gente! Normalmente durmo muito tarde e as pessoas que são íntimas sabem disso e trocamos telefonemas em horários avançados, porém não costumo usar telefone como despertador, até porque nem preciso, já que optei por não ter blecaute na cortina da janela de meu quarto e isso permite que a claridade me desperte naturalmente. Sou adepta do condicionamento humano a claridade natural do dia, orientação de horário por posicionamento do sol (normalmente não uso relógio e tão pouco uso o celular para substituí-lo). Minha margem de erro é como a de algumas pesquisas, de três a cinco pontos a mais ou a menos (no caso - minutos).
Como tenho consciência de que sou esquisita nos meus hábitos não os imponho a ninguém. Não se preocupem, vou achar normal usarem relógios, dormirem muito cedo e mais cedo ainda se levantarem, terem a vida corrida de segunda a sexta-feira e pensarem que se não aproveitarem ao máximo o sábado e domingo o mundo vai se acabar... Nesse momento estou em outra, quero aproveitar a oportunidade de viver no meu ritmo. Poder ter quantos domingos eu quiser na semana, ter a liberdade de me sentir normal, mesmo sendo tão diferente. Lamento informar que vivo minha espécie de estado nirvana... Sigo com minha casa tendo rabanada, canjica, pudim de pão, bolo de fubá, cuca de banana, bolinho de chuva, banana assada, aipim ou inhame cozidos e quentinhos, papa de milho, tapioca e coisas do gênero o ano todo. Isso aqui não é casa de fazenda, porém quero a vida saboreada sem pressa, frescura ou preguiça. Podem me telefonar a vontade, inclusive chegar para o café da manhã, mas a partir das oito, combinado? Se for para o café da tarde, telefonem antes de vir, pois mesmo sendo segunda-feira pode ser que eu tenha idoao cinema (se quiserem marcamos um café ali noSanTelmo)...