Em dezembro último, dei entrada em minha aposentadoria. Comecei a trabalhar aos quatorze anos, então estou encerrando um ciclo de trinta e oito anos de atividades profissionais. Uma história longa percorrendo mil caminhos, da música a biologia.
Consegui por todo esse período atuar em coisas que fazia com muito prazer. Fiz malabarismos para isso, já que conciliei trabalho, vida familiar, social e meu eu particular sem prejuízo na qualidade para nenhum deles.
Acho que saí no lucro, pois agora posso pleitear uma vaga em algum circo. Circo? Claro que sim. São trinta e oito anos de equilibrismo, malabarismo, mágica, teatro, dança, palhaçada (no melhor sentido e das boas, pois muitas vezes chorando por dentro, fiz gente que precisou de estímulo, sorrir ou até mesmo gargalhar). Nesse espetáculo já estive atuando também como animal ou domador. Engoli fogo, fui atravessada por espadas, fiz e doei (não vendi) pipocas, algodão doce, maçã do amor... Cuidei da bilheteria, arquibancada, cenário, vestuário, armei e recolhi lonas - que muitas vezes precisaram de remendos. Estive no palco e na platéia, sempre com o mesmo entusiasmo.
Já começo a preparar o meu currículo, pois sei que a aposentadorianão significa inatividade - o espetáculo continua, as praças de atuação é que serão outras. Estou me desvinculando do compromisso de exercer as atividades que me sustentam materialmente.Esse é apenas um pedacinho de minha história, talvez a que traga a iluminação, visibilidade. Só que o meu espetáculo é muito maior que tudo isso. Ele é feito de sangue, suor e lágrima muita vezes, mas sua essência é a alegria de viver espalhando otimismo e amor.
Posso pagar muito mico, porém quero a doçura de ser pequeno mico de um realejo manipulado por Deus.
Seja lá a função que venha exercer nesse espetáculo e a duração da temporada, compartilho com Vandré sua maneira de pensar...
"Tanta vida pra viver
Tanta vida a se aceitar,
Com tanto pra se fazer,
Com tanto pra se salvar"
E ainda constatando que ao refletir sobre o pensamento de Paul Valéry: “O homem felizé aquele que ao despertar se reencontra com prazer e se reconhece como a pessoa que gosta de ser." Que me perdoe Roberto Carlos, mas "Esse cara sou eu”!
Assim cheguei ao fim de 2012, com a sensação de conclusão de ciclo. Com esta postagem, participo do Mosaico de Ano Novo da blogueira Vera Moraes "O que mais gostei de fazer em 2012" lá no seu maravilhoso blog Aqui Tem de Tudo . Bora lá conferir o que a turma escreveu também?