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Suturas de amor...

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Hoje os meus olhos brilham e ao mesmo tempo queimam como fogo, pelas lágrimas da despedida de gente querida. Gente que lutou pela vida, muitas vezes em um silêncio não entendido por muitos. 
Hoje o que me faz escrever é a necessidade de afirmar para mim, que a morte não é o fim. Nada apaga alguém que amamos do coração da gente. Nada é mais forte que o amor. Esse amor que faz o peito doer com vontade de abraçar cada um da família que se vê enlutada.
Mais uma vez estou a me perguntar o porquê de algumas coisas acontecerem e a resposta na racionalidade humana insiste em não existir. Fica então a reflexão do que podemos fazer a partir desses fatos. Com a cabeça martelando entre  esperar por outros ou viver como minha mãe sempre ensinou: "daquilo que se conhece o início e não se sabe o fim, é necessário viver da melhor maneira possível o intervalo", concluo que quero seguir vivendo esse intervalo, saboreando o doce de cada fruto maduro, tendo a paciência para a espera da maturação dos que ainda estão verdes, dos podres analisando a possibilidade de aproveitar as sementes e dos que mesmo maduros permanecem inadequados para o consumo, peço a Deus que possa perceber que foram feitos apenas para serem vistos, mas nunca consumidos.
Não posso mudar o fim de história alguma, já que não conheço o que ainda virá, contudo é certo que posso mudar o meio, meio este que é o momento presente. O presente que é hoje, que poderá ser amanhã ou não, mas que precisa ser vivido com a delicadeza de quem sabe o quanto é tênue a própria existência.
Meus amados familiares, nossa história de vida será sempre muito valorizada por mim. Cada momento ao lado de vocês alimenta minha alma, me faz mais gente. Desejo nunca desperdiçar as oportunidades que Deus dá de poder me fazer presente. Tento circular por todos os meios em que estejam e onde não consigo ir, não deixo de estar em pensamento.
Essa dor tão forte de hoje faz com que lembranças de momentos maravilhosos de nossa história invadam meu pensamento. Agradeço a Deus por tê-los vivido. Muitos - humildemente reconheço - só valorizados agora. A vantagem do tempo vivido é que nos faz mais sensíveis na percepção do belo, dos detalhes que  se fazem invisíveis aos olhos de um jovem ávido em capturar na própria retina o todo, como se isso fosse essencial.
O dia de hoje, difícil e dolorido  deixará uma cicatriz na alma que vai precisar de arrumação...
Esse texto que transcrevo abaixo me foi apresentado pela primeira vez  em um ano qualquer da década de 80, por essa pessoa querida que hoje foi ao encontro dos nossos já instalados ao lado do Pai. Desde que li pela primeira vez, nunca mais o esqueci e tento fazer essa constante "arrumação" em minha vida.


Arrumação  (Wania Amarante)

É preciso varrer a casa, espanar os móveis
e refazer as camas.
É preciso incensar a sala
e temperar a cozinha,
preciso é vestir a mesa de renda
e de sol as janelas
deixar o vento entrar e o mofo sair.
É preciso arrumar a casa que o amor vem aí.

Preciso é tomar banho e se perfumar
vestir de domingo e esperar na porta
nas mãos as flores do dia
ou as lamparinas da noite.
É preciso vigiar, vigilar dia e noite
o amor que cheira no incenso da sala
e no tempero da cozinha.
É preciso arrumar a casa que o amor está aí.

É preciso manter essa casa interior arrumada, pois independente de tudo que possamos passar na vida, não podemos esquecer que o amor está aí e ele é o único capaz de vencer todas as dores, inclusive a dor da morte.

É momento de fazer uns nos outros, muitas compressas, curativos oclusivos e suturas de amor para curar nossas feridas. Feridas causadas pela partida da prima que se foi na primavera...




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